Os Kambeba, autodenominados como Omagua, são um povo originário da Amazônia brasileira e peruana. No Brasil o povo Kambeba está localizado em todos os municípios no Alto Rio Solimões, mas precisamente em São Paulo de Olivença –AM, com um total de 15 aldeias.
As primeiras menções a respeito desse povo feitas pelos europeus são do padre dominicano espanhol Gaspar de Carvajal, que no século XVI registrou aspectos culturais, alimentares, assim como a ocupação territorial e a constituição de suas moradias. Até as últimas décadas do século XX, os Kambeba eram forçados a renegar suas identidades étnicas, devido às fortes perseguições que eles sofreram por parte dos não-indígenas. Foi a partir do crescimento dos movimentos indígenas e dos avanços legais na Constituição de 1988 que o povo Kambeba resgatou sua cultura, firmando-se como uma grande referência política. Nesse contexto, os Omaguas da antiga aldeia Wakariazal, atual bairro de Santa Terezinha em São Paulo de Olivença, sobreviveram as bárbaras torturas sem nunca deixaram de se afirmar como povo Omagua ou Kambeba apelido dado pelos navegantes que significa cabeça chata, “kanga pewa”.
Fazendo parte do tronco linguístico Tupi e da família Tupi-Guarani, a língua Kambeba está em situação crítica, segundo o atlas das línguas em perigo da UNESCO. Desse modo, os principais falantes normalmente são os representantes mais idosos, todavia, esses anciões se recordam somente de parte da língua e não a utilizam de maneira rotineira, pois há poucas pessoas com quem conversar. Se faz necessário chamar atenção especial de todos os órgãos responsáveis pela educação entre outros para uma atenção especial a este povo, pois seus professores estão numa luta árdua para revitalização desta língua nas salas de aulas, todavia são necessários projetos voltados para coletas de materiais pedagógicos e didáticos que possam guardar esses dados.
De acordo com levantamento realizado no ano de 2016, na Universidade Federal de São Carlos havia 8 estudantes da etnia Kambeba, sendo o 4º povo com mais representantes matriculados na instituição, junto dos Xavantes e dos Umutinas. Desses 8 estudantes, nenhum é falante da língua kambeba, porém possuem cartilhas pedagógicas concebidas por uma liderança de seu povo.
É importante salientar a importância de as universidades terem dentro de seus cursos, disciplinas direcionadas aos interesses das populações indígenas, para que esses alunos possam discutir sobre as questões indígenas em sala, realizando pesquisas sobre seu povo, mostrando a necessidade que tal benefício possa lhes assegurar garantindo tais direitos e autonomia como povo e assim ajudar a divulgar as necessidades de suas comunidades.
Por terem a audácia de conceberem materiais pedagógicos próprios, o que geram visões diferenciadas na educação indígena Kambeba, a pedagoga e liderança indígena que idealizou o projeto dos materiais didáticos sofre constantes ameaças e perseguições políticas, que interpretam que a mesma está podando a independência de cada pessoa sobre seus direitos e, desta forma, retiram crianças Kambebas das escolas indígenas, levando-as para escolas não indígenas, numa estratégia de enfraquecer o movimento indígena que luta pelo direito a educação diferenciada, movimento esse que é representado pela tuxawa geral (cacique geral) do povo Omagua localizado no município de São Paulo de Olivença, que também assina esse texto.
Por Tuxawa Eronilde de Souza Ferrmin e Edmar Neves